PETRÓPOLIS, ENGENHARIA, CHORO E SAUDADE
No auge do desespero da
população, um engenheiro, então com 29 anos, professor da Escola Politécnica,
noticiou pelo jornal, que poderia aduzir água para os reservatórios da cidade,
permanentemente, em 6 dias. A notícia chegou ao conhecimento de Pedro II, que
ao receber confirmação do atrevido engenheiro, mandou que com ele, se fizesse,
por garantia, draconiano contrato. Em 6 dias a população do Rio de Janeiro tinha
água abundante. Ali nascia a Engenharia Nacional.
Problema de engenharia, pela engenharia
foi resolvido quando um governante sensato o entendeu.
Desbarrancamentos, desabamentos, barragens
que se desfazem, viadutos que esfarinham como se fossem de açúcar, rochas que
se desprendem, crateras que se abrem no meio das cidades. Populações urbanas em
desespero. Ontem, Ouro Preto, cidades baianas, mineiras. Para quem tem melhor
memória, Friburgo, Teresópolis, morro do Bumba, em Niterói. São tantas as
ocorrências de fatos “inesperados”, mas de tão grande frequência, que passamos
a acreditar que são inevitáveis, naturais, como se fossem ocorrências telúricas,
como vulcões, terremotos, tsunamis.
A permanência do homo sapiens
neste planeta, espalhado por todas as coordenadas geográficas, tem se dado pela
sua capacidade de adaptação às mais variadas condições ambientais, não apenas
pela via biológica, essa lenta, mas pela utilização de vestimentas,
equipamentos e modificações do microclima.
Os problemas elencados são do
domínio da engenharia e das profissões que lhe são conexas, a geologia, a
meteorologia, a geografia – alguns criados por elas mesmas. Cabe-lhes resolvê-los,
basta acioná-las, dar-lhes os meios para que possam pôr em prática o que sabem
fazer. Em duas ocasiões nestas Crônicas, sugeri que isso fosse assumido pelo
Sistema Confea-Crea por este reunir estrutura física e humana para operar como agência
reguladora de controle e fiscalização de riscos. Parcelamento e fiscalização do
uso do solo urbano têm que ser feitos por quem entende em profundidade dos
fenômenos que originam os desastres que estamos assistindo.
Qualquer assunto tratado no
Brasil de hoje está eivado de carga político-ideológica, o que dificulta sua
visão clara e objetiva, o que pode, de fato, impedir a solução de problemas. O atual,
consequências do que parece ser um agravamento da rudeza climática do planeta tem
sido atribuído a causas antrópicas – aquecimento global por concentração de carbono
etc. Outras correntes ideológicas, movidas por interesses distintos negam essas
evidências e argumentam com a existência de grandes ciclos climatológicos por
que passa a Terra, por razões cósmicas, universais.
Engenheiros perguntarão se há registros
hidrológicas de chuvas como as atuais e com que recorrência, se as obras de
drenagem e contenção levaram em conta esses registros. Preto no branco, lógica,
discernimento.
Ações inteligentes evitarão
tragédias. A engenharia pode prever e evitar catástrofes e mitigá-las quando
isso não for possível, cabendo-lhe articular com a Defesa Civil, previamente, medidas de socorro.
As notícias que me chegam de Petrópolis
têm tornado estes dias muito tristes para mim. levando-me à depressão, na
medida em que me tocam cordas não adormecidas e sensíveis do passado.
Tenho por Petrópolis o mesmo
sentimento que guardo por Leopoldina, em Minas. Em cada uma dessas cidades se revelaram
rumos definidores da minha vida. Na mineira encontrei a companheira definitiva e
ideal da jornada que dura 60 anos, com bons frutos. Petrópolis abriu-me as portas da academia. Ambas
as situações me surgiram do “bom acaso”, não pretendidas. Destino, afirmam os
fatalistas.
Certo sábado, início dos anos 60,
recebi comissão de ex-alunos, recém ingressados na engenharia da Universidade
Católica de Petrópolis, informando-me que tinham me indicado para assumir uma
das cadeiras de Matemática no curso de engenharia daquela universidade. “Vocês
ficaram doidos”, lhes disse, de pronto.
Relataram que estavam em greve e
que exigiam outros docentes para algumas matérias. O Impasse durava semanas. Pressionado,
o Reitor pediu-lhes nomes. Era difícil deslocar professores do Rio, existiam 2
ou 3 cursos de engenharia na região, para darem aulas em Petrópolis. Fui professor de alguns do grupo em preparatórios
para vestibular, artistas da sala de aula, dominava bem os conteúdos da
matemática para engenheiros, por conta dos grandes mestres que tinha
frequentado.
Fiz-lhes entender que Petrópolis
estava a uma hora do Rio, que economicamente era desvantajoso, que eu já tocava
minha própria empresa e estava me afastando das aulas nos cursinhos. Que eu era
apenas engenheiro.
Quarta-feira recebi, ligação do
Reitor Sá Earp convidando-me a ir a Petrópolis. A grade horária foi ajustada
para que eu subisse a serra apenas uma vez por semana, às quartas.
Tenho sido engenheiro e professor.
Na academia, engenheiro-professor, aos jovens engenheiros que ingressam na academia,
reflitam e evitem ser professores-engenheiros. Sutil, mas importante!
Crônicas da Madrugada. Danilo
Sili Borges. Brasília – Fev. 2022
O autor é membro da
Academia Rotaria de Letras do Distrito Federal. ABROL BRASÍLIA
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