A SEIS MESES DAS ELEIÇÕES
Estávamos na quinta-feira, 21/4,
feriado, de dupla significação, o Dia de Tiradentes, que rememora sua execução,
em 1792, pela Coroa Portuguesa e, para nós brasilienses, o 62º aniversário de
fundação desta cidade, símbolo da esperança de um Brasil que ainda haveremos de
conquistar, o Brasil dos sonhos de Juscelino e da geração que descobriu que o
Brasil podia ser grande, indo além das dimensões físicas de suas fronteiras,
que alguns analistas se referem como a época da “geração de 1958”.
Lembrou-me, então, minha mulher, que ouviu
notícia do cancelamento, em massa, de títulos eleitorais de idosos pelo
Tribunal Eleitoral e que teríamos, se tivermos sido vítimas da agressão, que
recorrer até o dia 4 de maio. Disse-me que a conversa que corre é que o expurgo
dos idosos das listas eleitorais, seria devido ao fato das pesquisas indicarem
que os eleitores dessa faixa etária têm preferência por um candidato, que não o
do suposto desejado pelo Tribunal, coisa na qual, sinceramente, não acredito.
Comentei com Zélia, minha esposa,
que desde 1960, minha primeira eleição, voto dado a Jânio, boton da vassoura na
lapela, nunca deixei de comparecer a um só chamado para exercer o
direito/obrigação de me manifestar democraticamente, em todos os pleitos
havidos, até mesmo quando no exterior e quando pela idade já gozo da não
obrigatoriedade.
Confesso que já sabia da notícia,
mas que não senti entusiasmo, caso verdadeira, para garantir meu direito de
cidadão ao voto. Percebi que algo nessas eleições que se aproximam tinha um
elemento faltando, e logo que pude me isolar, pus-me a refletir, o que acabou
por gerar esta crônica. O que não está presente é o novo, é a esperança, é a
mão do jardineiro que possa, a um só tempo, adubar a democracia claudicante e fazer
reviver o empreendimento produtivo e competitivo.
Além dos palpáveis resultados
físicos, mensuráveis por índices econômicos, naquela quadra, dos anos 50, pela
índole e princípios da liderança de JK, plantou-se a semente viçosa da
democracia. A infraestrutura do desenvolvimento foi capaz de resistir e
continuou a dar frutos por mais de 20 anos. As vantagens das liberdades
democráticas foram logo suprimidas, pelo embate das mesmas forças que hoje se
digladiam pelo poder, incapazes de entender as vantagens das sociedades
plurais, evoluídas, politicamente tolerantes, onde adversários disputam o
privilégio de orientar episodicamente a sociedade, sem pretensões hegemônicas
ou totalitárias.
Cessado o impulso econômico daquela
fase, tentamos resgatar os direitos sociais e individuais que tinham sido
suprimidos por duas décadas. Esperançosa a sociedade pariu entre dores e gritos
de alegria a Constituição de 1988.
Desde então, não fomos capazes de
reatar os trilhos do desenvolvimento econômico consistente às linhas que foram
abandonadas em algum lugar do passado, por termos sido conduzidos ao processo
de fazer política pelo ódio, pelo “nós contra eles”, pelos “pobres contra os
ricos”, pelo “vamos acabar com a classe média”, sustentáculo de toda economia
de mercado, pois o objetivo era mesmo acabar com esse tipo de economia.
A cada ação, uma reação,
descobriu Newton na Física, mas ela é lei universal. A radicalização, com militância
e tudo o mais, acabou por surgir e ganhou as eleições de 2018.
Estamos a seis meses das eleições,
e mais uma vez o embate de forças estéreis se apresenta para escolha do povo. Neste
árido processo político não surgiu o novo, a mensagem da esperança por novos
caminhos.
Tanto é assim que os próprios
candidatos não falam de seus programas. Eles repetirão o que fizeram nos
mandatos anteriores, e que nos trouxeram até aqui, a duras penas, ao estado
deplorável em que nos encontramos. Dependendo das urnas, voltaremos a ter
movimentos de invasão de terras em lugar de uma política agrária, e de clivagem
dos segmentos sociais como método de mobilização popular, pois isso atende a objetivos
ideológicos.
Se as preferências recaírem no
outro candidato, certamente enfrentaremos um movimento pela modificação da lei
para permitir um terceiro mandato, uma campanha eleitoral que se iniciará em 1º
de janeiro de 2023, e desentendimentos com a imprensa, com o STF, com o Parlamento
e, que os anjos nos poupem, até com dirigentes estrangeiros. É a guerra como
método de fazer política eleitoral. Só isso!
Mesmo na angústia da escolha
pobre de opções, procurarei saber se meu título está valendo e votarei no menos
ruim. O que se há de fazer?!
Crônicas da Madrugada. Danilo
Sili Borges. Brasília – Abril, 2022
O autor é membro da
Academia Rotária de Letras do Distrito Federal. ABROL BRASÍLIA
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