O CORAÇÃO DO NOSSO PAI

 



O Dia dos Pais é uma das datas mais festejadas do ano, só perdendo para o Natal e para o Dia das Mães.

Neste ano, em que a 7 de Setembro comemoraremos o bicentenário da Independência,  cabe refletir sobre o nosso Pai, D. Pedro I, a figura histórica que formalmente concebeu o desligamento político do Brasil da metrópole portuguesa, cujo vínculo naquela altura durava 322 anos, ao proclamar e assinar o ato em que comunicava à corte portuguesa e ao mundo o desfazimento do vínculo da dependência que nos unia. Era um ato de coragem política e pessoal, que teria, como teve, consequências, mas já aguardado.

Do meu ponto de vista, não vejo, entre nós, ser dado a Pedro de Alcântara os créditos pelo seu ato, que o fez pôr em risco seu direito à coroa do milenar reino de Portugal e Algarve, como realmente ocorreu -  que talvez não pretendesse para si, mas que a sucessão se desse por seus filhos - ,  tendo que obrigá-lo, em 1831, a retornar à Europa, promover uma guerra contra seu irmão Miguel, vencê-la, ocupar o trono com o título de Pedro IV, abdicar em favor de sua filha mais velha Maria da Glória, que governou aquele país por 19 anos, com o título de Maria II.

Feito esse preambulo, voltemos ao coração do Pai. Debilitado pelas guerras - o nosso e deles - Pedro, faleceu em 1834, aos 35 anos, no Palácio de Queluz, onde havia nascido. Por seu desejo expresso, seu coração foi levado e mantido na cidade do Porto. E é com fulcro nessa relíquia histórica que se desenvolve o restante dessa crônica.

Na minha juventude, os estudos de História eram feitos sobre vultos que pareciam não terem vidas reais, apenas existirem nos livros e darem as caras em datas a serem memorizadas para as provas de final de ano. Na adolescência, um amigo de escola emprestou-me um livro sobre a vida do nosso Imperador, que me fez cair em mim, e entender que as pessoas, mesmo as mais altas da hierarquia, são humanas, com suas fraquezas, necessidades e idiossincrasias. “Maluquices do Imperador”, de Paulo Setúbal, me apresentou ao jovem príncipe que escandalizou o Rio de Janeiro no início do século XIX, onde se abrigava com a família que fugira de Napoleão.

Nos prolegômenos da independência, quando a corte portuguesa exigia o retorno do príncipe rebelde, sua esposa  Leopoldina de Habsburgo e  José Bonifácio de Andrada e Silva, que entrou para a História com o justo título de Patriarca da Independência, ambos com vivências em culturas desenvolvidas, prestaram ao jovem príncipe, então com 24 anos,  o suporte psicológico e estratégico para os seus atos.

A consolidação da independência e a integridade territorial do Brasil devem muito à coragem e às decisões de Dom Pedro I. Se naqueles primeiros meses de 1822, ele tivesse retornado à sua terra natal, onde era o herdeiro do trono, com grande probabilidade o território da América Portuguesa se teria desmembrado, tal como ocorreu com a América Espanhola. Devemos, além do Grito do Ipiranga, os nossos 8,5 milhões de quilômetros quadrados a Pedro I do Brasil, IV de Portugal.

Entendo que Pedro de Alcântara nunca teve entre nós os créditos que lhe são devidos. É pouco termos seus restos mortais repousando no Monumento à Independência a partir de 1972. Proponho, aqui e agora, que lhe seja conferido, oficialmente o título de Pai da Pátria, pela formalização da Independência e pelas ações corajosas que propiciaram nossa integridade territorial.

Por ter restabelecido a linha sucessória liberal em Portugal, lá é herói, tendo monumento na Praça do Rossio, na Baixa de Lisboa, que oficialmente é Praça Dom Pedro IV.

Para a organização dos festejos dos 200 anos da Independência, o governo brasileiro solicitou a Portugal que concedesse, por empréstimo, o coração de Dom Pedro para que estivesse presente em atos solenes das efemérides.

O pedido foi para que a relíquia histórica ficasse por aqui por 4 meses. O coração, conservado há quase dois séculos, está aos cuidados da Irmandade de Nossa Senhora da Lapa e da municipalidade da cidade do Porto, que, com resistência, fizeram a concessão por prazo menor.

Avião da FA brasileira o trará em 22 de agosto, devendo permanecer entre nós até 8 de sete
mbro. Excesso de zelo? Medo de que um coração que a maior parte da vida bateu por aqui não queira voltar?

Não quero pensar com a cabeça dos cuidadosos guardiões do coração de Pedro, mas talvez eles nos vejam como um Zé Carioca, aquele velho personagem do Walt Disney, simpático, engraçado, mas ......

Como cuidamos do nosso acervo cultural, só para lembrar:

Incêndio do Museu Nacional (2/9/2018, perda incomensurável):

Incêndio do MAM,  Museu de Arte Moderna RJ (8/7/1978 - perda de obras de Salvador Dali, Joan Miró, Picasso, Henri Matisse, Rene Magritte, Portinari e Di Cavalcanti)

Roubo e destruição da Taça Jules Rimet, comemorativa do tricampeonato de futebol (20/12/1983).

Incêndio do Museu da Língua Portuguesa (21/2/2015 SP)

Tentativa de venda do Palácio Gustavo Capanema RJ (recente - arquitetura modernismo)

Que por aqui se cuide bem do coração do Pai da Pátria, Herói da Nação Luso-Brasileira.

E que o devolvamos íntegro, como aqui há de chegar!

Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Ago.2022

danilosiliborges@gmail.com

O autor é membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA

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