NÃO LEVEM NOSSOS ENGENHEIROS
Essa pretensão de proteger o
nosso esporte favorito, salvaguardando os nossos clubes, fere o direito do
trabalhador de alugar sua força de trabalho a quem lhe oferecer as melhores condições.
Nas legais relações atuais, desde cedo, os clubes amarram os jovens talentos a
contratos de modo a se ressarcirem pelo que investiram na sua preparação e na
projeção da sua imagem. A exportação de atletas é fonte de receita
significativa para muitos clubes brasileiros. Atletas e clubes ficam muito
satisfeitos.
Se nos ressentimos de não ver os
melhores craques vestindo as camisetas dos nossos preferidos, sabemos que a
experiência que adquirem em mercados futebolísticos competitivos lhes
acrescentam habilidades que os tornam ainda mais virtuosos e de grande
utilidade quando convocados à seleção brasileira.
Além do futebol, os brasileiros
são muito bons em muitos outros campos. Alguns, dos mais sofisticados, por
estarem “na ponta” do desenvolvimento tecnológico, entre eles a indústria
aeronáutica, que além da aviação comercial, abrange a militar e atividades
aeroespaciais.
No ranking das maiores indústrias
aeronáuticas do mundo, pelo critério de receita anual, a Embraer ocupa a 28ª
posição. Se considerarmos apenas o setor de aviação comercial, está em 4º
lugar. As duas maiores fabricantes de equipamentos aeronáuticos são, por
qualquer critério, a americana Boeing e a europeia Air Bus, revezando-se nas
duas primeiras posições. O Brasil conta com um florescente grupo de empresas no
segmento aeroespacial onde se destacam, além da Embraer, a Avibras, a Akaer, a
AELSistemas, a Dafran entre outras.
A Boeing, uma espécie de Real
Madrid da atividade aeronáutica, está sendo acionada judicialmente para ser
impedida de contratar engenheiros brasileiros, pelas nossas empresas do setor,
por meio de duas entidades delas representativas: a Associação Brasileira das
Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE) e a Associação das
Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), sob a alegação de que engenheiros,
altamente qualificados, das suas afiliadas estão sendo cooptados pela Boeing, pondo
em risco a sobrevivência dessas empresas e ameaçando a soberania nacional. São
diversas as alegações, sendo a mais impactante o argumento do sigilo de
informações estratégicas para a segurança nacional.
Estima-se que em curto período,
inferior a um ano, a Boeing levou para seus quadros mais de 200 engenheiros
brasileiros. A complexa ação judicial pretende limitar o número dessas contratações
pela empresa estrangeira, além de condená-la a pagar valores investidos para a
especialização dos engenheiros, custeados por entidades nacionais.
Corre na mídia especializada, que
a Boeing está renovando o seu quadro de engenheiros, com idade média elevada e
em fase de aposentadoria, com jovens profissionais brasileiros. Fico feliz, não
por perdê-los, é claro, mas pelo reconhecimento de suas qualidades.
Há complexos temas a serem
considerados, desde o direito de o empregado escolher livremente para que
empresa quer trabalhar, até os da segurança nacional, por serem esses
profissionais detentores e desenvolvedores de equipamentos e de estratégias em
áreas de altíssima sensibilidade, sob contrato anterior.
Na página de abertura do blog que
edito, Conversa de Engenheiro, consta a frase:” O desenvolvimento de um país e
do exato tamanho da sua engenharia”. Tamanho aqui, significando importância.
O reconhecimento da engenharia
aeronáutica nacional não surgiu do nada e tem uma trajetória exemplar, na qual
despontam patriotismo, visão de futuro, desprendimento pessoal, que merece ser conhecido.
Foi a partir da criação de uma escola de engenharia, o ITA, Instituto Tecnológico
da Aeronáutica, que se construiu todo o complexo tecnoindustrial dessa área do
qual o país pode se orgulhar.
Dezenas de histórias de empresas
de base tecnológica que se desenvolveram no país pela visão clara e patriótica
de seus idealizadores, tanto ao abrigo do Estado, quanto no âmbito da
iniciativa privada e que hoje levam o nome do Brasil ao reconhecimento
internacional podem ser contadas. Dentre elas está a Vale, uma das maiores
mineradora do mundo, nascida estatal, como Companhia Vale do Rio Doce, em 1942
pelas mãos do notável engenheiro e político Israel Pinheiro – que também foi,
como presidente da Novacap, o construtor de Brasília.
Da iniciativa privada, com origem
familiar, trago, para exemplificar, a catarinense WEG, com presença mundial em
diversos segmentos, dos mais simples aos mais sofisticados, da eletromecânica,
presença mundial, 38 mil colaboradores, sendo 3,8 mil engenheiros.
Há uma empresa brasileira que se
faz presente, com sua altíssima tecnologia, diariamente em bilhões de lares
pelo planeta, sem que sua marca ou rótulo apareça. Fundada em 1973, foi o jovem
Ministro da Agricultura, Alisson Paulinelli, que tornou a Embrapa o
impulsionador do setor agropecuário nacional de importância global, a começar
pela formação de seu quadro técnico, que nos levou ao domínio da produção em
áreas tropicais e do cerrado, então consideradas improdutivas ou de baixa
rentabilidade. Milagres da ciência, da educação, da tecnologia e da seriedade
com que os desafios foram enfrentados.
A receita do sucesso e do desenvolvimento,
quer empresarial, quer nacional, não muda: abordagem séria das questões, com perspectiva
de longo prazo, planejadas estrategicamente, visão de estadista, em oposição
aos procedimentos, calcados em imediatismo tático, objetivando o poder político
por si mesmo.
O Brasil tem jeito e tem bons
exemplos!
Crônicas da Madrugada. Danilo
Sili Borges. Brasília – Nov. 2022
O autor é membro da
Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA
Duas verdades são incontestaveis - economia não tem nacionalidade, não estuda geografia - lei da oferta e procura e inexorável. Intervenção do governo na economia e um desastre. Por estes motivos não conseguimos segurar os talentos do futebol e da engenharia. Apenas usamos os impostos do povo para treina-los e exporta-los. Solução e abertura total da economia, competição plena e redução da interferência do governo na economia, com forte âncora social: nutrição, saúde e educação. Pacto social proposto atinge estes objetivos. Conte comigo. Ronaldo Carneiro
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